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domingo, 31 de julho de 2011

Solano Trindade

CANTO À AMADA
Eu tenho uns versos bonitos
pra cantar pra minha amada
sempre sempre desdobrada
em beleza e formosura
Ontem minha amada estava
dentro da cara da Lua
numa garota da rua
no palhaço da folia
Um dia vi minha amada
nas águas do grande mar
outra vez a encontrei
num belo maracatu
Numa canção ela estava
num samba estava também
estava numa boa pinga
sempre está no meu amor
Eu tenho uns versos bonitos
pra cantar pra minha amada
sempre sempre desdobrada
em beleza e formosura

TEM GENTE COM FOME 
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu



sexta-feira, 29 de julho de 2011

Anjos de Soweto, Ecos da Noruega

Anjos de Soweto, Ecos da Noruega

O recente episódio na Noruega que culminou com dezenas de mortes nos leva a algumas indagações, como, por exemplo, a que níveis de degradação moral e ética a intolerância pode nos levar? Esse triste e terrível acontecimento foi motivado por sentimentos deploráveis que a muito vem vitimando milhares de vida em várias partes de nosso adorável planeta terra. Milhões de judeus, ciganos, deficientes físicos foram exterminados pelas forças nazistas e seus simpatizantes durante a Segunda Guerra Mundial. Nos EUA era prática comum, a discriminação racial dirigida contra os não brancos. Eram comuns os linchamentos seguidos de enforcamentos de negros nas árvores desse país promovidos por organizações como a temível Klu Klux Klan, com a complacência de autoridades e de expressivos segmentos sociais e religiosos.

Na África do Sul, um país que há décadas vigorou um regime político deplorável, o Apartheid, estudantes negros no bairro de Soweto, em 16 de Junho1976, num ato de desprendimento e de amor a vida rebelaram-se contra as imposições da elite branca que conduzia o país com mãos de ferro e com um apetite enorme por mortes. Milhares de estudantes foram às ruas em protesto contra a imposição da língua africânder, nome de uma das línguas do colonizador branco. A polícia atirou contra estudantes que marchavam com seus uniformes.

Soweto, um importante bairro localizado na cidade de Johanesburgo, África do Sul, com grande concentração de negros foi uma importante frente de resistência ao Apartheid, nunca se curvou, nele se travou uma das batalhas mais trágicas contra esse regime. Estudantes negros, os Anjos de Soweto, munidos de forte indignação e em defesa da liberdade e da vida enfrentaram uma Polícia bem armada e bem treinada, que não encontrou incômodo nenhum em atirar e promover um massacre, pois tais práticas lhes eram conhecidas há tempos. Foram mortas 170 pessoas, entre elas muitas crianças e outras centenas ficaram feridas no Massacre de Soweto.

Em nome de uma suposta supremacia étnico-racial, acrescidas de outros componentes discriminatórios, dezenas de vidas foram ceifadas no levante de Soweto de 1976 e em ações com conteúdos semelhantes, dezenas de vidas foram ceifadas recentemente na Noruega. Diante desse acontecimento é de conhecimento público que na Europa há uma crescente onda de xenofobia e de tentativas de culpar os imigrantes pela crise econômica e social pelo qual passa alguns países europeus. Somadas a tais práticas esta em curso uma tentativa de criminalização do islamismo e dos mulçumanos. Essas posturas contam com o consentimento de lideranças políticas e de chefes de governos europeus.

No Brasil, sob a forma de múltiplas violências, dezenas de crianças, adolescentes e jovens, principalmente negros tem tido suas vidas, também violadas. Há em nosso país quando se trata do desrespeito à condição humana, uma predileção cotidiana a onerar a população negra, ou seja, há um massacre constante e cotidiano. O momento é de reflexão, mas, exige uma tomada de posição, exige desprendimento e ações que valorizem a vida e o respeito às diferenças, sob todas as suas formas. Temos que sairmos da indiferença e do individualismo, temos que assumir o comando das ações em defesa da igualdade plena, caso o contrário, os anjos da morte e as vozes da obscuridade continuaram a agir, os resultados já nos são conhecidos.     

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Educação e Relações Étnico-Raciais

Educação e relações étnico-raciais

         A diversidade étnico-racial esta presente em nosso cotidiano, a sociedade brasileira por longos anos foi pensada pelos segmentos sociais dominantes a partir de interesses políticos e econômicos de classe, de gênero e de raça. O conceito de raça humana desenvolveu-se de forma equivocada, a partir do desenvolvimento de teorias biológicas de classificação das espécies do reino animal no século XIX. A utilização do conceito de raça humana foi uma construção política que para tanto procurou subsidiar as teorias racialistas que fizeram sucesso no século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Tais teorias tiveram adeptos entusiastas no Brasil e subsidiaram a ação do Estado brasileiro na construção de políticas públicas que, mediante diversas formas aprofundaram o caráter excludentes de nossa sociedade.
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         Em uma sociedade marcada profundamente por relações desiguais nos remete a reflexão da necessidade de repensarmos a qualidade das relações étnico-raciais. A educação das relações étnico-raciais perpassa por diversas relações, ou seja, relações familiares, nos locais de trabalho, nos espaços de lazer, nos espaços religiosos, nas escolas, universidades, etc. Para que possamos melhor compreender as dimensões da importância da reeducação das relações étnico-raciais faz sentido analisar as seguintes orientações:

Depende também, de maneira decisiva, da reeducação das relações entre negros e brancos, o que aqui estamos designando de relações étnico-raciais. Dependem, ainda, de trabalho conjunto, de articulação entre processos educativos escolares, políticas públicas, movimentos sociais, visto que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nas relações étnico-raciais não se limitam à escola. (Conselho Nacional de Educação - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana/2004).

Os nossos modelos tradicionais de ensino foram organizados para legitimar, uma hegemonia ideológica de determinado segmento social brasileiro. Do Ponto de vista social e político procurou-se legitimar, o interesse da classe social dominante do Brasil, etnicamente procurou-se idealizar relações étnico-raciais baseadas em supostas hierarquias e do ponto de vista de gênero, procurou-se afirmar a supremacia dos Homens.  “Homem, Branco e Rico”, foram componentes trabalhados no imaginário social como símbolo de poder, hora de forma explícita, hora de forma indireta, subliminar. A primeira vista pode parecer que essas questões já foram superadas, mas na realidade muito dessas idéias permanecem e foram agravadas por não terem sido enfrentadas de forma adequadas.

         Os nossos sistemas de educação, seja público ou privado, têm importantes responsabilidades no trato da diversidade e das relações étnico-raciais. Há que se ter desprendimento, deve haver um contínuo trabalho junto aos profissionais da educação que vise ao seu real engajamento em suas unidades de ensino diante dessas questões, quanto aos alunos devem serem estimulados a reflexões que os possibilitem reeducarem-se continuamente perante a novas relações étnico-raciais e outras questões correlatas. Os desafios são grandes, nesse sentido são apropriadas as seguintes orientações:                                                 
O sucesso das políticas públicas de Estado, institucionais e pedagógicas, visando às reparações, reconhecimento e valorização da identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros dependem necessariamente de condições físicas, materiais, intelectuais e afetivas favoráveis para o ensino e para aprendizagens; em outras palavras, todos os alunos negros e não negros, bem como seus professores, precisam sentir-se valorizados e apoiados. (Conselho Nacional de Educação - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana/2004)





terça-feira, 19 de julho de 2011

Saravá Terra que eu piso!

Vamos Sarava Terra que eu Piso, aprendi com, os jongueiros de Pinheiral, que é uma das cantigas para iniciarmos o nosso jongo. Sarava-se a terra primeiro, posto que ela tem dono, nela primeiro pisaram nossos ancestrais e é um lugar de retorno. Todo respeito é bom, é uma tradição que vem de longe. O jongo de Pinheiral tem suas origens na tradição jongueira do Vale do Paraíba e dos escravizados da fazenda São José dos Pinheiros, que deu origem ao nome da Cidade de Pinheiral/RJ.

Deparo-me, porém, com indagações do tipo, “O que é o Jongo?”, Aprendi com os mais velhos de Pinheiral a não ser afoito em querer responder indagações como essa. O jongo tem seus encantos, e uma coisa é certa, "Jongo não é Brincadeira e nem é de Caçoada". No jongo dança-se com os ancestrais, reverenciam-se as memórias comunitárias, pois, o jongo esta inserido na  sua comunidade de origem. As comunidades jongueiras têm suas particularidades, um olhar atento permite perceber esse aspecto.

“O jongo é um formidável exemplo da capacidade do negro que diante de uma situação adversa teve para resistir e se organizar em todos os aspectos. Nas antigas rodas de jongo, de forma dissimulada, articulavam-se revoltas, fugas, coberturas para negro que tivesse sendo procurado, etc... Resistia-se cantando, dançando, agregando,...No jongo fala-se de fazendas, carreiro, matas, rios, terreiros de café, combinam-se palavras de origens bantu, fala-se de saudades, regozijo, prazeres, encantamento, etc.O universo do jongo é amplo e tudo tem um sentido, não se canta uma cantiga de jongo como quem canta uma música comum, suas canções trazem mensagens que devem ser entendidas pelos jongueiros e isso não é brincadeira, e quase sempre são feitas, sob , a forma de perguntas e respostas".

Os seus frutos são muitos, o samba, em suas origens tem como um de seus pilares, o jongo, muitos jongueiros, cuja origem é do Vale do Paraíba, estiveram entre aqueles patriarcas do samba. Clementina de Jesus, Vovó Maria Joana, Mano Elói,... e muitos outros são bons exemplos. Em uma entrevista do saudoso João do Vale, ele se referiu ao Jongo, com uma expressão cujo significado é "Osso duro de roer", pois é, como diz uma cantiga, “Bota Pó no Coador pra coar Café, ..., Fazenda tão pequenina, terreiro sem fim, to no meio de tanto jongueiro, o que será de mim”..., Vida longa ao jongo. 

Negu véi já vai prangola, vou caminhando devaga...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Diáspora Músical Negra

Essa breve reflexão tem como intuito abordar, a herança musical africana na diáspora. O Brasil, um país que se frojou a partir do trabalho escravizado foi amplamente influenciado pela cultura negro africana em todoas as suas vertentes. No tocante as diferentes manifestações musicais aqui desenvolvidas, o samba é um dos gêneros musicais mais evidentes, porém, em sua origem esteve o jongo, as tradições ritmicas da religiosidade negra, etc...
Nos EUA, O blues e o jazz são dois bons exemplos de como a musicalidade africana fez raízes em solo norte-americano. Em suas raízes estiveram semelhantemente como aqui no Brasil, as tradições musicais e religiosas africanas. O grito, a voz, o improviso, a dissimulação, etc...foram amplamente utilizados para dar-lhes uma estética musical.
Os ritmos afro-caribenhos, igualmente são outros importantes exemplos dos demais citados. Os jamaicanos fojaram o reggae, popularizando esse país mundialmente. Entre as canções de Marley, Peter Tosh, entre outros estvam mensagens de questionamentos a opressão racial a que eram submetidos, os negros em seu país e no mundo. 
De gêneros musicais mal vistos e perseguidos tornaram-se importantes patrimônios culturuais de seus respectivos países. De manifestações musicais marginalizadas e demonizadas, resistiram, ampliaram-se e hoje são importantes referências musicais em todo planeta. Mas é bom não perdermos de vista que todo fruto tem a semente que o originou.