Páginas

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Poesia Africana de Expressão Portuguesa: Alda Espírito Santo


 O texto pode ser lido na integra no Site:
www.betogomes.sites.uol.com.br/ - 3k -
Poemas:

Biografia
Alda Espirito Santo, também conhecida por Alda Graça, nasceu em São Tomé em 1926 e teve a sua educação em Portugal. Ainda freqüentou a Universidade, mas teve que abandonar, em parte devido às suas atividades políticas, mas também por motivos econômicos. Sendo uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa, ocupou alguns cargos de relevo nos governos de São Tome e Príncipe, nomeadamente foi Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura e Deputada. Os seus poemas aparecem nas mais variadas antologias lusófonas, bem como em jornais e revistas de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Depois de publicar "O Jogral das Ilhas, em 1976, publicou em 1978 "É nosso o solo sagrada da terra", o qual é até ao momento o seu trabalho mais importante.
Obra poética:
O Jogral das Ilhas, 1976, São Tomé, e. a.;
É Nosso o Solo Sagrada da Terra, 1978, Lisboa, Ulmeiro.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011



O pensamento de Cheikh Anta Diop e as independências africanas

Dialo Diop

2010-03-01, Edição 28

http://pambazuka.org/pt/category/features/62675

Bookmark and Share

Versão para imprimir

O artigo de Dialo Diop sobre o pensamento de Chekh Anta Diop e as chamadas independências africanas chama a atenção do leitor para a atualidade gritante na obra do historiador senegalês, quando questionamos o conceito de ajuda à África, uma ajuda enviesada, que vem disfarçada de causas desenvolvimentista, mas que no fundo, contribui para a manutenção do estado de exploração e falta de seriedade dos Estados africanos. Vale lembrar a critica do autor à transformação da OEA num clube de dirigentes africanos com um falso discurso de Renascimento Africano. Para o bolso de quem?
Este ano, a 23ª edição da tradicional peregrinação de Caytu, ao mausoléu de Chekh Anta Diop, coincide com a celebração do cinquentenário daquilo que se convencionou chamar de “as independências africanas”. Este momento de recolhimento e de homenagem ao Secretário Geral fundador do RND - Rassemblement National Démocratique (União Democrática Nacional) é uma ocasião de acessar o equilíbrio de uma etapa de meio século de lutas individuais e coletivas pela emancipação e desenvolvimento dos povos africanos.

Da cascata de transferência de competências menores no ano de 1960, preccedida pela independência do Gana e da Guiné Conacry, à abolição do Apartheid e o surgimento de uma nova África do Sul em 1994, e passando pelas guerras de libertação da Argélia, das colônias portuguesas ou inglesas, o processo de descolonização formal de nosso continente, iniciado no após Segunda Grande Geurra mundial, foi atingido no essencial, antes da virada do século e do milênio. Enquanto isso, parece que seja retrospectivamente evidente que os principais objetivos do movimento africano de liberação não foram atingidos, a saber: a idependência e a soberania; a democracia e a igualdade; a unidade e a solidariedade.

Muito pelo contrário, a divisão do continente em mais de cinquenta Estados perpetua a divisão imperial de Berlim (1885) e favorece a manutenção de nossos países sob tutela em diferentes graus, enquanto as guerras civis ou estrangeiras, os golpes de Estado sangrentos, ou constitucionais, a violência eleitoral, a insegurança e a corrupção geral, os tráficos de todos os gêneros, enfim, a miséria e a ignorância da grande maioria dos africanos mantém o caos interior, e com algumas exceções, e a vulnerabilidade exterior.

No quadro dessas condições, é preponderante conhecer a lucidez e a clarividência de Cheikh Anta Diop que, desde, o amanhecer das independências, havia sublinhado o perigo de uma « sulamericanização » da África e indicou a via, o caminho, para evitá-lo: “a unficação política do continente sob bases federais e democráticas”. De longe, no início dos anos 2000, esquecendo os ensinamentos da experiência acumulada, os chefes de Estados africanos fingiram ter aprendido a lição, notadamente transformando a OUA em União Africana (UA), com a criação de uma Comissão de Vocação Executiva e com o lançamento do programa de Renascimento Africano. Mas há boas razões para se acreditar que se trata mais uma vez, de vozes piedosas e de solgans vazios de sentido. Ao mesmo tempo em que, os estados da América do Sul querem romper com o círculo vicioso das dependências, da instabilidade e da pobreza, se engajam resolutamente na via salutar da revolução unitária bolivariana...

Trata-se de dizer o quanto tornou-se necessário e urgente para se propor uma alternativa crível aos povos africanos e render efetiva a palavra de ordem do Renascimento Africano, de retorno às teses e recomendações vitais de Cheikh Anta Diop, o “faraó de Caytu”. A começar com uma ruptura obrigatória do mito da “ajuda ao desenvolvimento”, um erro que distrai a ilusão segundo a qual a construção do continente depende da boa-vontade de forças extra-africanas, que jamais deixaram de pilhar os recursos humanos e naturais, mais que nossas proprias forças, que sao imensas.

De fato, a mensagem política fundamental de Cheikh Anta Diop, « unir ou perecer », se apresenta aind mais atual hoje em dia do que ontem, nuam escala tanto local quanto continental e do ponto de vista tanto político, quanto econômico. De modo que, o princípio sagrado da independência africana verdade dura mais pertinente que jamais, e aqui em todos os domínios da soberania: alimentar, energética, militar, monetária, diplomática, cultural, ecológica... e sobretudo, política, com um papel essencial reconhecido à ética política. Enfim, no que concerne à queestão democrática, sua contribuição decisiva consistiu em demonstrar que toda contrução nacional viável e durável supõee a igualdade de direitos dos cidadãos, que por sua vez, implica em recorrer sistematicamente às línguas africanas tanto na administração quanto na educação. Poderíamos multiplicar os exemplos infinitamente.

Resulta disto tudo que precedeu que já é o grande tempo, o grande dia, para que os povos da África se apropriem das idéias inovadoras e salutares propostas por Cheikh Anta Diop - este digno continuador dos teóricos do panafricanismo revolucionário, - que se esforçou ao longo de toda sua vida de trabalho científico e de combate político, em coordenar suas falas com seus atos.

O RND, por sua vez, vem renovar, nesta ocasião solene, sua fidelidade e seu comprometimento com os ensinamentos de seu falecido Secretário geral fundador, donde sua experiência por mais de trinta anos de luta local, permitiu-lhe verificar a justeza e a eficácia da linha política posta em ação durante sua direção: junção de forças patrióticas e democráticas, recusa à violência política, firmeza de pencípios e flexibilidade de sua obra, recorrência às línguas nacionais, no funcionamento interno das instâncias, premanência dos interesse geral sobre os interesses particulares dos dirigentes, etc.…

Por isso, nós lançamos um apelo apressado ao conjunto dos compatriotas africanos, e de início à juventude do continente e da Diáspora, convidando-os a apreender o pensamento político de Cheikh Anta Diop, para utilizar na longa luta comum por romper com um passado, doravante revolvido , de divisão, de dependência e de alienação, a fim de construir um futuro alternativo e positivo de paz, de liberdade, de unidade e de solidariedade, susceptível a garantir uma vida melhor a todos e para cada um.

* Este texto é uma declaração do Secretariado Exectutivo do RND - Rassemblement National Démocratique, o partido criado pelo pesquisador senegalês Cheikh Anta Diop, en 1976.

**Traduzido do francês por Alyxandra Gomes Nunes

***Por favor envie comentários para editor-pt@pambazuka.org ou comente on-line em http://www.pambazuka.org

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Joseph Ki Zerbo, Restaurando a dignidade da África

O Texto foi extraido do Site:
http://www.manduco.net/apps/forums/topics/show/1579888-joseph-ki-zerbo

Seus compatriotas afetivamente o apelidaram de “O Professor”. Suaambição: unir ciência, conscientização e vida, tanto quanto possível,para criar um “mundo diferente”. Joseph Ki-Zerbo nasceu em Toma,Burkina Faso, em 21 de junho de 1922. Morreu em 4 de dezembro de 2006,em Ouagadougou.
Ki-Zerbo foi um dos pais da historiografia africana moderna, cujoponto alto foi a publicação dos oito volumes da “História Geral daÁfrica (Editora da UNESCO, 1970-1990). Membro do comitê científico paraa produção coletiva da obra, Ki-Zerbo desempenhou um papel chave nesseprojeto pioneiro.

O Professor
Primeiro africano a receber o grau de professor de históriadenominado "aggregation", em 1956, Joseph Ki-Zerbo teve uma longacarreira de educador.A maioria dos países africanos conquistou suaindependência nos anos 60. As novas circunstâncias demandavam umahistória da descolonização. As teorias, inclusive de Hegel, quecolocavam a África às margens da história (chamando-a de o continente“a-histórico”;), haviam influenciado enormemente abordagenseurocêntricas quanto ao passado africano. A história africana eraconsiderada um apêndice da história européia. As tradições oraisafricanas eram consideradas uma “memória repetitiva” pouco confiável eque não poderiam, segundo aqueles obcecados pela escrita, servir comofonte para a história. Esqueceu-se até mesmo que a África, além de játer sido um reservatório de tradição oral, teve longa tradição deescrita não apenas no Egito, mas também na Etiópia, Mali (Timbuktu),Nigéria (Kano) e Tanzânia (Kilwa).

Joseph Ki-Zerbo, juntamente com Cheick Anta Diop, do Senegal, era oporta-estandarte para a descolonização da história africana. Sualiderança intelectual foi chave dentro da chamada “geração de 1956”,que estabeleceu as fundações da história africana “começando pelamatriz africana” e eliminando, dela, o preconceito racista.

Rompendocom abordagens e métodos anteriores que eram inapropriados para areconstituição do passado do continente africano, o professor defendeua aceitação das tradições orais africanas como fontes históricas, emadição às fontes escritas e arqueológicas. Ele questionou a idéia dapré-história como se referindo ao período precedente à invenção daescrita, particularmente rico em criatividade no continente africano, edirigiu o Volume I da “História Geral da África”, publicado pela UNESCO(1970-1990) e dedicado exatamente à pré-história africana e aosproblemas de metodologia.
Adicionalmente, seu livro Histoire de l’Afrique Noire d’hier àdemain (História da África Negra: de ontem ao amanhã, 1972) é o textoprincipal que representa uma nova abordagem para a história africana,uma abordagem que tenta identificar os processos internos e externosque podem explicar a evolução do continente, a longo prazo.
Historiador e ativista
Aobra intelectual de Ki-Zerbo não pode ser analisada separadamente deseu ativismo político, iniciado quando ele era um jovem estudante eparticipou da fundação de diferentes partidos políticos, incluindo oMouvement de Libération Nationale (MLN, Movimento de LibertaçãoNacional), para promover a independência e a unidade do continente.Sólido pan-africanista, companheiro de N’Krumah (Gana) e PatriceLumumba (Congo), Ki-Zerbo conseguiu, durante sua vida, transformar seuspensamentos em ações. Nesse espírito, co-fundou a Associação deHistoriadores Africanos, da qual foi presidente de 1972 a 2001. Tambémexpressou seu compromisso com a defesa da dignidade humana, em cadafronte.
Para Ki-Zerbo, “o real historiador é o intelectual na polis, ointelectual orgânico envolvido em seu ambiente enquanto mantém certadistância, sem a qual seria mero partidário”. Suas análises edificantesdos desafios de hoje – desenvolvimento, globalização, educação, meioambiente, identidades – resultaram em uma série de livros com títulosprovocadores: “Educar ou Padecer” (1990), “A esteira do outro” (1992),“A África quando?” (2003). O conhecimento e sabedoria que impregnam seutrabalho dão a ele um impacto universal. Com raízes no humanismo,Ki-Zerbo é alimentado por valores africanos profundos e convida a umaalteridade (do tipo que não aliena) para construir um “mundo diferente”de solidariedade e respeito mútuo.
Doulaye Konaté, professor da Universidade de Bamako, é presidente da Associação de Historiadores Africanos. Em 2004 Dany Kouyaté dirigiu um documentário sobre Joseph Ki-Zerbo,com a participação do próprio historiador, chamado "Identités etidentité pour l’Afrique" (Identidades e identidade para a África),disponível no Centro de Estudos Africanos para o Desenvolvimento(CEDA), fundado por Ki-Zerbo, em 1980.
November 4, 2009 at 4:46 AM

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

África é o Berço da Inteligência Humana

O texto foi extraido do Site:
http://civilizacoesafricanas.blogspot.com/2010/01/africa-e-o-berco-da-inteligencia-humana.html


Sítio arqueológico de Blombos.


A cultura humana nasceu muito antes do que imaginávamos. E na África – não na Europa, como pensavam os estudiosos. Há 77 mil anos, os ancestrais do homem já eram capazes de fazer arte e pensar de forma abstrata. Prova disso são duas barras de argila colorida com desenhos geométricos encontradas no sítio arqueológico de Blombos, a 290 quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2004. As descobertas foram feitas pela equipe do antropólogo americano Christopher Henshilwood, da Universidade de Nova York. “A presença de objetos entalhados de gravuras significa que as habilidades de aprendizagem e a capacidade para o pensamento abstrato estavam presentes entre aqueles homens”, diz. “Essa aptidão para o armazenamento de informações fora do cérebro humano é entendida como cultura, como inteligência.”

Os novos achados refutam a teoria de que o despertar da cultura humana teria ocorrido na Europa, conforme sugeriam pinturas rupestres encontradas em grutas na França, em lugares como Lascaux (a descoberta foi em 1940), Chauvet (em 1994) e Cussac (em 2004), além de Altamira, na Espanha (ocorrida em 1868) – todos esses desenhos encontrados na Europa não têm mais do que 35 mil anos. “Isso indica que o povo africano, de quem nós todos descendemos, era moderno em suas atitudes muito antes de eles chegarem à Europa e substituírem os neandertais”, afirma Henshilwood.

Jóia é sinal de cultura
Stefan Gan
Fabricar jóias é um sinal de aprendizagem. Isso foi levado em conta pela equipe de Christopher Henshilwood como um dos sinais de que a África foi realmente o berço da inteligência. No mesmo sítio arqueológico de Blombos, os cientistas encontraram 41 peças que acreditam terem sido usadas como ornamentos pessoais. Elas têm 75 mil anos e eram feitas com as conchas de um molusco que habita a região, o Nassarius kraussianus.
Os objetos têm perfurações e marcas de uso. Até então, as jóias mais antigas já encontradas eram mais recentes: tinham cerca de 50 mil anos. “As conchas eram usadas como jóias, símbolos de troca e também para identificação de algum grupo específico. Isso tudo indica que, há 75 mil anos, já existiam formas de os homens se comunicarem uns com os outros”, afirma Henshilwood. “Portanto, podemos dizer que a linguagem humana já estava desenvolvida.”

Racionais
Geometria esperta

Os desenhos geométricos encontrados nas duas peças de argila em Blombos são uma série de losangos. Os pesquisadores só os consideraram manifestações de inteligência porque não são simples rabiscos, e sim símbolos de pensamento abstrato.

Conchas reveladoras
As conchas encontradas em Blombos também serviam como parte de um sistema de troca de presentes conhecido como hxaro. Se uma seca provocasse escassez em uma tribo, esse grupo mudava-se para o território de outro, onde encontrava auxílio com quem tinha estabelecido laços hxaro.

Livro velho
A corrida pelos vestígios humanos mais antigos do mundo é acirrada. O livro O Despertar da Cultura, de Richard Klein e Stanley Ambrose, recém-publicado no Brasil, já chega por aqui velho. O livro relata a descoberta pelos dois de jóias de 50 mil anos na África. Os achados em Blombos os deixaram para trás.
.:: Revista Aventuras na História

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

COCO (DANÇAS DE UMBIGADA)

O Artigo foi extraido do Site:
 
"vamos umbigar meu povo..."

Coco é uma dança bastante comum na região norte-nordeste do Brasil, provavelmente trazida pelos negros de origem banto - habitantes de Angola - da região do Congo-Angola, Com eles, veio a tradição danceira de umbigada. Existem várias versões sobre o coco, que, aliás, recebe várias nomenclaturas diferentes, tais como coco-de-roda, coco-de-embolada, coco-de-praia, coco-do-sertão, coco-de-umbigada e ainda outros o nominam com o instrumento mais característico da região em que é desenvolvido, como coco-de-ganzá e coco de zambê. Cada grupo recria a dança e a transforma ao gosto da população local.
Embora receba várias denominações, todas elas têm a umbigada como principal característica. Existe até o coco de desafio, dançado geralmente apenas por homens em um grande desafio de agilidade, força e ritmo.

Mais comum na região litorânea do nordeste, as pessoas contam que o coco pode ter surgido dos escravos que quebravam coco com pedra para a manufaturação. Há também relatos de que tenha havido a mistura desse povo com elementos indígenas, principalmente na marcação do ritmo e na instrumentalização e, ainda, da intervenção dos portugueses com seu formato de roda, muito comum nas danças do folclore daquele povo.
Os coquistas, como são chamados os que participam do coco, passam a noite umbigando sem parar. Os cantadores improvisam, e a roda - muito mais chamada de gira - responde, fazendo um grande coro. Os dançadores formam uma roda, batem palma e ajudam a embalar o coco. Em alguns lugares, ainda calçam um tamanco que ajuda na percussão com o seu sapatear.

A marcação é feita com os pés, em um compasso de geralmente três pisadas fortes no chão. Alguns instrumentos mais comuns são o ganzá, o pandeiro, o zambê, as palmas e o tamanco (calçado nos pés); em algumas regiões, principalmente em Pernambuco, a alfaia, a caixa e outros tambores.
O coco-de-roda (também conhecido em certos lugares como coco-do-sertão), mais comum na Paraíba, diferentemente do dançado em outras regiões, é feito em roda e as pessoas ficam de mãos dadas e girando, umbigando alternadamente com um e com outro, na própria roda.
O chamado coco-de-praia desperta a atenção pelas coreografias elaboradas, exigindo muito dos dançarinos.
Todos esses elementos e diferenciais do coco ajudaram muito a popularizar o ritmo, que chegou a ser muito dançado dentro dos salões. Hoje, é muito apreciado apenas nas comunidades que mantêm viva essa tradição e por quem se interessa por dança e cultura popular, principalmente estudantes.
"vem coquiar, eu te desafio a dançar coco comigo, vem coquiar, eu te desafio a dançar coco com o umbigo..."


"Segura o coco!"

Edgard Freitas

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia

Reproduzo parcialmente um texto de uma Palestra proferida pelo Prof. Dr. Kabenguele Munanga no 3º Seminário Nacional Relações Raciais e Educação-PENESB-RJ.

O texto pode ser lido integralmente no site:
http://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59

Parte I

Prof. Dr. Kabengele Munanga (USP)

Etmologicamente, o conceito de raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio, que significa sorte, categoria, espécie. Na história das ciências naturais, o conceito de raça foi primeiramente usado na Zoologia e na Botânica para classificar as espécies animais e vegetais. Foi neste sentido que o naturalista sueco, Carl Von Linné conhecido em Português como Lineu (1707-1778), o uso para classificar as plantas em 24 raças ou classes, classificação hoje inteiramente abandonada.

Como a maioria dos conceitos, o de raça tem seu campo semântico e uma dimensão temporal e especial. No latim medieval, o conceito de raça passou a designar a descendência, a linhagem, ou seja, um grupo de pessoa que têm um ancestral comum e que, ipso facto, possuem algumas características físicas em comum. Em 1684, o francês François Bernier emprega o termo no sentido moderno da palavra, para classificar a diversidade humana em grupos fisicamente contrastados, denominados raças. Nos séculos XVI-XVII, o conceito de raça passa efetivamente a atuar nas relações entre classes sociais da França da época, pois utilizado pela nobreza local que si identificava com os Francos, de origem germânica em oposição ao Gauleses, população local identificada com a Plebe. Não apenas os Francos se considerava como uma raça distinta dos Gauleses, mais do que isso, eles se consideravam dotados de sangue “puro”, insinuando suas habilidades especiais e aptidões naturais para dirigir, administrar e dominar os Gauleses, que segundo pensavam, podiam até ser escravizados. Percebe-se como o conceito de raças “puras” foi transportado da Botânica e da Zoologia para legitimar as relações de dominação e de sujeição entre classes sociais (Nobreza e Plebe), sem que houvessem diferenças morfo-biológicas notáveis entre os indivíduos pertencentes a ambas as classes.

As descobertas do século XV colocam em dúvida o conceito de humanidade até então conhecida nos limites da civilização ocidental. Que são esses recém descobertos (ameríndios, negros, melanésios, etc.)? São bestas ou são seres humanos como “nós”,

* Palestra proferida no 3º Seminário Nacional Relações Raciais e Educação-PENESB-RJ, 05/11/03 europeus? Até o fim do século XVII, a explicação dos “outros” passava pela Teologia e pela Escritura, que tinham o monopólio da razão e da explicação. A península ibérica constitui nos séculos XVI-XVII o palco principal dos debates sobre esse assunto. Para aceitar a humanidade dos “outros”, era preciso provar que são também descendentes do Adão, prova parcialmente fornecida pelo mito dos Reis Magos, cuja imagem exibe personagens representes das três raças, sendo Baltazar, o mais escuro de todos considerado como representante da raça negra. Mas o índio permanecia ainda um incógnito, pois não incluído entre os três personagens representando semitas, brancos e negros , até que os teólogos encontraram argumentos derivados da própria bíblia para demonstrar que ele também era descendente do Adão.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Morrer de Banzo


Morrer de Banzo, morrer de tristeza ou morrer de saudade, da terra, da família, dos amigos, da aldeia, do seu povo, eis um dos dramas que se abateram sobre a comunidade negra na diáspora. Pego a me imaginar os que passaram por tais situações, confesso que é um exercício penoso. Tai, uma das cadências do Blues, do Samba, do Choro e do Reggae, ou seja, essas expressões musicais da diáspora são bem carregadas desses sentimentos.

Em breve aqui no Brasil estaremos celebrando, o dia 20 de Novembro, o dia nacional de luta contra o Racismo e demais formas de intolerâncias correlatas. Valeu Zumbi, o grito forte dos Palmares  continua ecoando até hoje em nossas mentes e corações. Aqui faz jus refletir sobre o Poeta, Solano Trindade, que em momento de intima comunhão com sua ancestralidade, brindou-nos com, “ Canto aos Palmares, sem Inveja de Virgílio, Homero e Camões...”.

Ter  respeito  e celebrar as nossas tradições e memórias permite-nos saber nossas referências e nossas raízes. Essa postura é de reconhecimento e de gratidão a toda contribuição daqueles que um dia foram tratados como o pior dos seres. Aqueles que resistiram de diversas formas e que nos brindaram com essa magnífica herança cultural e política que temos em nossa sociedade. Muitos morreram de Banzo, mas através dele se libertaram e retornaram as terras de seus ancestrais. Um brinde a todos....

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Simplesmente Cartola

A Biografia de Cartola pode ser consultada no Site:

Cartola não existiu.
Foi um sonho que tivemos.
- Nelson Sargento -

Através de suas canções, o povo brasileiro
pôde entender um pouco mais a vida, e como lidar
com o dia a dia de uma maneira mais poética.
Cartola partiu desse mundo deixando suas canções
e seu amor, e nós o louvamos, e o amamos muito.
Cartola ignorou a injustiça pois esteve sempre
ocupado, com o que tinha no coração.
Tinha sabedoria suficiente para saber o quanto
estava adiante de seu tempo, o quão importante
seria os Brasileiros um dia perceberem
a mensagem que Espíritos Africanos o designaram
para levar a terras distantes.
Hoje em dia, o mundo inteiro percebe.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ó Abre Alas, Chiquinha Gonzaga e varra os Preconceitos que queremos passar!

Texto biográfico - Chiquinha Gonzaga GONZAGA, Chiquinha – (Francisca Edwiges Neves Gonzaga).

Compositora, instrumentista, regente. Rio de Janeiro, RJ, 17/10/1847–idem, 28/02/1935. Maior personalidade feminina da história da música popular brasileira e uma das expressões maiores da luta pelas liberdades no país, promotora da nacionalização musical, primeira maestrina, autora da primeira canção carnavalesca, primeira pianista de choro, introdutora da música popular nos salões elegantes, fundadora da primeira sociedade protetora dos direitos autorais, Chiquinha Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro, filha do militar José Basileu Neves Gonzaga e de Rosa Maria de Lima. [...]
Por desafiar os padrões familiares da época, sofreu fortes preconceitos. Aperfeiçoou-se com o pianista português Artur Napoleão (1843-1925). Sua vontade de musicar para teatro levou-a a escrever partitura para um libreto de Artur Azevedo, Viagem ao Parnaso. A peça foi recusada pelos empresários. Outras tentativas fracassaram, até que conseguiu, em 1885, musicar a opereta de costumes A Corte na Roça, encenada no Teatro Príncipe Imperial. Em 1889 promoveu e regeu, no Teatro São Pedro de Alcântara, um concerto de violões, instrumento estigmatizado àquela época. Foi uma ativa participante do movimento pela abolição da escravatura, vendendo suas partituras de porta em porta a fim de angariar fundos para a Confederação Libertadora. Com o dinheiro arrecadado na venda de suas músicas comprou a alforria de José Flauta, um escravo músico. Chiquinha Gonzaga também participou da campanha republicana e de todas as grandes causas sociais do seu tempo. Já era uma artista consagrada quando compôs, em 1899, a primeira marcha-rancho, Ó Abre Alas, verdadeiro hino do carnaval brasileiro. Na primeira década deste século esteve algumas vezes na Europa, fixando residência em Lisboa por três anos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

OS SUBTERRÂNEOS DO BLUES E SEUS CÓDIGOS DE ACESSO

O Blues pode ser tratado de diversas formas, ou seja, do ponto de vista de sua estética musical, de seus músicos, de seus compositores, de seus cantores, das suas diversas lendas, das suas raízes etc. Enfim, todas essas variantes compõem a apaixonante história do mano Blues. Todos aqueles envolvidos com esse gênero musical direta ou indiretamente têm suas histórias particulares em que o Blues perpassa e deixou suas marcas e por meio desse se expressaram.

 Nem tudo veio para a grande mídia, muito de suas intimidades e segredos não vieram à tona e dependendo da situação não poderiam vir, permanecendo acessíveis somente a aqueles digamos assim, que o cultivavam. Dos códigos compostos em formas de músicas, um “Senhor Escravista, ou um Capataz, jamais poderiam ter acesso”. Esses posicionamentos do negro iriam influenciar a futura estética musical do Blues. A trama acontecia, o que se via ou se ouvia publicamente poderia não ser aquilo que se pensava ser, pois desse subterrâneo do Blues nem todos tinham o código de acesso. A dissimulação, o estar atento, uma boa dose de malícia, a criatividade, o improviso, o sentimento, a paixão e a musicalidade desde então passaram a ajudar a tecer esse formidável subterrâneo Blues. O depoimento de Campbell E. Simemms, em jazzmen, é esclarecedor:

“Os negros trabalhavam e cantavam juntos e muitas destas canções tinham um significado que só eles atingiam. Para o branco esses cantares traduziam a paz e a satisfação do escravo, mas para os negros isso não passava muitas vezes de um meio de trocar mensagens. << É melhor ires andando por aquela estrada abaixo – filho –  melhor ires andando por aquela estrada abaixo. O Senhor Charlie da cidade não se sente bem – é melhor aliviares essa pesada carga>> - a canção era recebida e passada de uns para os outros através dos campos. Queria simplesmente dizer  que um homem branco de outra cidade acabava de chegar à plantação e que era melhor que o jovem negro que trabalhava entre eles, zelosamente escondido dos brancos na <<casa grande>>, deixasse a cidade. Era freqüente entre os negros darem asilo aos seus irmãos perseguidos que vinham pedir-lhes refúgio e, na altura própria, comunicavam-lhe em código a urgência em abandonar a plantação nessa noite. Tais letras misturadas nas canções conhecidas tinham um enorme significado para ouvidos negros”.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Jackson do Pandeiro: Eu só boto Be-Bop no meu Samba quando o tio San tocar o tamborim

A Biografia de Jackson do Pandeiro pode ser encontrada no site:
http://www.jacksondopandeiro.digi.com.br/

Músicos que o acompanharam como Dominguinhos e Severo dizem que ele era um grande “sanfoneiro de boca”, o que significa que apesar de não saber tocar o instrumento ele fazia com a boca tudo aquilo que queria que o sanfoneiro executasse no instrumento. O fato de ter tocado tanto tempo nos cabarés aprimorou sua capacidade jazzística. Também é famosa a sua maneira de dividir a música, e diz-se que o próprio João Gilberto aprendeu a dividir com ele.  

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

João do Vale, mostrou para nós um outro Brasil, Carcara, pega mata e come!

Mais informações sobre a Biografia de João do Vale pode ser acessada no site:
 http://www.mpbnet.com.br/musicos/joao.do.vale/

Em 1964 estreou como cantor no restaurante Zicartola, onde nasceu a idéia do show Opinião, dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro. Dele participou, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão, tornando-se conhecido principalmente pelo sucesso de sua música Carcará (com José Cândido), a mais marcante do espetáculo, que lançou Maria Bethânia como cantora. Como compositor, em 1969 fez a trilha sonora de Meu nome é Lampião (Mozael Silveira). Depois de se afastar do meio musical por quase dez anos, lançou em 1973 Se eu tivesse o meu mundo (com Paulinho Guimarães) e em 1975 participou da remontagem do show Opinião, no Rio de Janeiro.

sábado, 17 de setembro de 2011

João da Baiana, Gente Nossa, Salve a Bahia!

A Biografia Completa de João da Baiana pode ser encontrada no site:
http://www.dicionariompb.com.br/joao-da-bahiana/biografia
Compositor. Pandeirista.

Filho de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança. Seus avós, ex-escravos tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros no Largo da Sé. Sua mãe, conhecida pelo nome de Tia Perciliana, era baiana, donde surgiu seu apelido, João da Baiana, para distingui-lo de outros Joões do bairro. Foi criado na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, onde tomou lições de cartilha com D. Maria Josefa. Na infância, teve como companheiros os futuros compositores Donga e Heitor dos Prazeres. Seus pais constantemente promoviam festas de candomblé, para as quais deviam tirar licença com o chefe de polícia, pois na época o samba, a batucada e o candomblé eram manifestações proibidas.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Conosco, Para Sempre, Mestre Pixinguinha

A Biografia Completa de Pixinguinha pode ser acessada no site:

De 1919 a 1921 o grupo fez uma turnê no interior e capital de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e Pernambuco. De volta ao Rio, começaram a tocar no Cabaré Assírio, no subsolo do Teatro Municipal. Foi lá que conheceram Arnaldo Guinle, milionário e fã do grupo que patrocinou uma temporada para os Oito Batutas em Paris. Impossibilitados de sair da cidade, os irmão Palmieri e Luiz Pinto da Silva foram substituídos por Feniano, José Monteiro e J. Thomás, respectivamente, sendo que J. Thomás adoeceu, ficando o grupo reduzido a sete integrantes. Em 29/1/1922 eles embarcaram para a Europa, mas com o nome de Os Batutas (em francês "Les Batutas"). O sucesso foi imediato, mas a ida do grupo causou polêmica. Muita gente se sentiu honrado pela representação do Brasil lá fora, outras pessoas preconceituosas se sentiram envergonhadas, "taxavam a viagem de desmoralizadora do Brasil e pediram até providências por parte do Ministro do Exterior."
A turnê estava programada para um mês, mas devido ao tremendo sucesso, acabaram ficando por lá 6 meses e só voltaram porque a saudade era grande. Os Oito Batutas voltaram com influência jazzística na bagagem. Pixinguinha ganhou um saxofone de Arnaldo Guinle que muitos anos depois iria substituir a flauta. Donga substituiu o violão pelo banjo e eles também incorporaram instrumentos ainda desconhecidos na música popular, como pistão, trombone e clarineta. Continuaram tocando no Assírio, e em vários outros locais, até que surgiu uma outra viagem, desta vez para a Argentina onde embarcaram, não se sabe ao certo, entre dez/22 e abril/23. Novamente o grupo foi modificado: Pixinguinha (flauta e saxofone), J. Thomás (bateria), China (violão e voz), Donga (violão e banjo), Josué de Barros (violão), Nelson Alves (cavaquinho), J. Ribas (piano) e José Alves (bandolim e ganzá). O sucesso foi grande, mas as divergências foram maiores, e o grupo se dividiu, ficando metade sob a liderança de Pixinguinha e China, e a outra metade com Donga e Nelson Alves. O grupo liderado por Pixinguinha ficou na Argentina, enquanto que a outra parte liderada por Donga voltou ao Brasil. Os que na Argentina ficaram tiveram sérios problemas de sobrevivência. Depois de levar um golpe de um empresário que fugiu com todo o dinheiro do grupo, a única saída era apelar. E foi o que eles fizeram. Josué de Barros (que alguns anos depois seria o descobridor de Carmen Miranda) resolveu dar uma de faquir, ficando enterrado vivo durante dez dias, para ver se arranjavam dinheiro para pelo menos voltar para o Brasil, mas no terceiro ou quarto dia teve que desistir da idéia, pois o calor era grande e a esposa do chefe de polícia, sensibilizada, pediu que ele desistisse. O retorno ao Brasil se deu com a ajuda do consulado brasileiro em Buenos Aires.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O BLUES, CANTADO E TOCADO DO JEITO QUE A GENTE SENTE, LIVRE, LEVE E SOLTO

Sobre o Blues há muitas histórias, sabemos que esse fascinante gênero musical tem suas origens firmadas em solo africano, desenvolvendo-se em Estados com forte presença negra nos EUA como o Mississipi, Louisiana e Alabama. O Blues é um filho da diáspora negra, inseriu-se no seio de uma comunidade em volta a todos os tipos de dissabores. Ele é fruto de uma intervenção coletiva acrescida de várias vivências e dramas pessoais.

As canções de trabalho nas duras lidas no campo, as canções religiosas das Igrejas Negras e as canções dos campos de prisioneiros estão nas suas origens. Os chamados Hollers, ou gritos entoados nas canções, eram uma herança trazida da África e são fartamente presenciados no Blues. O improviso, a técnica das perguntas e respostas repetidas, também são outras características sua.  

No entanto, o Blues não deve ser visto apenas como uma música para o entretenimento. Ele desde suas origens teve um forte componente social. Os seus criadores viveram em condições de vidas dificílimas. Nele se cantam sobre paixões, jogatinas, pactos, desilusões, alcoolismos, amantes, sexo, mas há outras importantes narrativas em que vários questionamentos e denúncias estiveram presentes como, por exemplo, a crítica feita à cristianização forçada dos negros em versos do século XIX.

“White man use whip              “O branco usa o chicote
White man uses trigger              O branco usa o gatilho
But the Bible and Jesus              Mas a Bíblia e Jesus
Mad a slave of the nigger”         Fizeram do negro um escravo"

O Blues possui muitos encantos, podemos falar que possui mesmo uma forte magia, hoje possui admiradores em várias partes, há muitos anos extrapolou o contexto rural em que foi gerado. A sua presença é forte já a um bom tempo no cenário da música internacional. O Blues é um símbolo da resistência musical negro-africana que nunca se curvou, sempre irreverente, tenso, livre, leve e solto. Vida longa ao Blues. Com a palavra “Big Bill Broonzy”:

“...pra que eu possa cantar o velho blues que aprendi no Mississipi, tenho que voltar ao meu som e não aos acordes corretos que mandam os músicos tocar. É que eles não lidam com o blues de verdade...os blues não saíram de nenhum livro, mas os acordes saíram...o verdadeiro blues é tocado e cantado do jeito que a gente sente; e nenhum homem ou mulher sente a mesma coisa todo dia”.

domingo, 11 de setembro de 2011

Clementina de Jesus, Simplesmente, Clementina.

A trajetória de Clementina poderia ter passado em branco se não fosse um encontro determinante - e o Brasil ficaria com uma lacuna em sua história musical.

Nana Vaz de Castro
06/02/2001

A Biografia completa de Clementina de Jesus pode ser encontrada no Site:
http://cliquemusic.uol.com.br/materias/ver/uma-biografia-como-tantas-outras

O que impressiona é a ligação que ela fazia entre a nossa herança africana e uma capacidade musical e vocal extraordinária. Era uma intérprete maravilhosa", diz Turíbio Santos, que a considera uma espécie de Louis Armstrong brasileiro. Seu repertório, em grande parte resgatado por ela mesma da memória das festas religiosas e dos cantos da mãe, era um exemplo academicamente perfeito da força da tradição oral na cultura afro-brasileira. Assim, Clementina passou a ser considerada uma espécie de elo perdido na conexão entre a África e o Brasil.
"Clementina teve uma importância cultural muito grande em termos não só de interpretação mas também de repertório, no início de sua carreira. Ela era mais jongueira e partideira do que sambista. Uma parte do resgate do jongo e do partido-alto deve-se a ela. E do lundu também, na sua essência, bem rústica, como ela cantava. Ela fica na fronteira entre a música popular brasileira e o folclore", diz Elton Medeiros, que acompanhou Clementina durante muitos anos, desde a estréia no Teatro Jovem.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Donga, Grande Mestre! AXÉ!

Donga

A Biografia completa de Donga você poderá acessar no site:http://musicachiado.webs.com/Biografias/BiografiaDonga.htm
    Ernesto Joaquim Maria dos Santos, compositor e violonista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, no dia 5/4/1889 e morreu na mesma cidade no dia 25/9/1974.
    Filho de pai pedreiro e bombardinista e da famosa Tia Amélia (Amélia Silvana de Araújo), mãe-de-santo, cantadeira de modinhas, festeira, uma das baianas do bairro da Cidade Nova (com Tia Ciata, Tia Presciliana de Santo Amaro, Tia Gracinda, Tia Verdiana...) que fundaram ranchos onde cultivavam sessões de candomblé e sambas.
    Sempre foi Donga, apelido familiar atribuído desde menino. Por freqüentar desde criança as rodas de ex-escravos e negros baianos, aprendeu a coreografia do jongo, afoxé, inclusive as danças derivadas do candomblé e macumba. Com João da Baiana formou uma conhecida dupla de capadócios...


terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Capoeira tem Origens e Marca!


Você pediu Angola, Angola eu vou tocar...

A Capoeira hoje apresentada ao mundo pelas agências de informações do Brasil como um fruto da cultura brasileira, de sua suposta integração étnico-racial e de um povo miscigenado, vem sendo alvo de ações que já ocorreram com outras produções artístico-culturais de matrizes africanas como a exemplos dos gêneros musicais, o chorinho aqui no Brasil, o Rock nos EUA, como também das Escolas de Samba, ou seja, de um seletivo processo de embranquecimento.

Estas mesmas fontes que hoje tecem essas impressionantes imagens sobre a capoeira, também foram no passado seus algozes. A sutil estratégia intenta esvaziá-la de seu conteúdo étnico-racial, assim como de seus pressupostos políticos e sociais. Ela foi criada no seio de uma comunidade, construiu referências, contrapôs as tentativas lusitanas de imposição de uma hegemonia cultural no Brasil.

As suas origens Bantu forjaram lideranças ligadas às religiões de origens africanas, as diversas organizações sócio-culturais como os blocos de afoxé, maracatu, associações de trabalhadores, escola de samba etc. Portanto foi forjada dentro de um contexto de inserção do negro na sociedade brasileira, subvertendo os seus supostos valores morais e civilizatórios ditados por uma elite que tinha a mente na Europa e torcia o nariz para tudo que lembrasse a negro.

A capoeira se insere em uma ampla rede de ações pertencentes à diáspora negra. Desfigurá-la, portanto de suas origens é descontextualizá-la de seu conteúdo. É bom ficar bem atento quanto a essa questão, a capoeira tem origens e marca. Caso pudéssemos falar inclusive em propriedade intelectual não seria exagerado. A capoeira não é fruto de integração racial nenhuma e muito mesmo de uma suposta miscigenação, ela é fruto sim, de uma intervenção coletiva negro-africana no Brasil. Vejamos então essa antiga cantiga de capoeira que aprendi com meus saudosos mestres Betim e Daí:

Meu Deus que barulho é esse?
Que vem La da porta do mercado,
Era um navio negreiro
Trazendo escravo acorrentado,
Meu Deus eu já fui escravo,
Acorrentado em corrente de Ouro,
Eu sou angoleiro,
Angoleiro das minas de ouro...
               

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

........................Sônia Abíké RIBEIRO: Poesia Afro-Brasileira

Negra-ação para Negação e Negra ação
 Pensaram em matar minha vida, Negando minha água
 Pensaram em tirar minha força, Negando meu ar
 Pensaram em arrancar minhas atitudes, Negando meu vento
Pensaram em desviar meus caminhos, Negando meu fogo
Pensaram que iam, desviar minha Negra ação me colocando como Negação
 MAIS   eu Voltei NEGRA-AÇÃO
 Reconstrui minha ORI-ÁFRICA, DENEGRINDO MINHA AÇÃO
 Nos caminhos de DECISÃO e DEVIR no fogo e ferro de ESÚ E OGUM
Nos ventos de ATITUDES e ações POLÍTICAS OYA/YANSÃ
Nos fogos e labaredas de JUSTIÇA de INTELECTUALIDADE DE  XANGÔ
Nas forças e cuidado da MÃE TERRA E DA VIDA com XAPANÃ, OBÁLÚÁYE. ÓMULÚ
Nas estratégias de OXOSSI e OSSAIN
Nas escutas sensíveis de OBÁ
Na maternidade coletiva e a oralidade de NANA
NAS astúcias e espertezas dos YBEJIS e ÊRES
  Nas FORÇAS DA VIDA e FERTILIDADE DE IDÉIAS das águas de OXUM E YEMONJÁ
No sopro sagrado dos ares de forças e perseverança OXALÁ
Voltei NEGRA-AÇÃO
Enfim.....Encontrei minhas origens , NEGRA AÇÃO encontrei minhas ORIGENS SOMANDO AS  PARCELAS  ANCESTRAL
voltei NEGRA-AÇÃO  para me tornar  EU ... NÓS...INTEIRA NEGRA  AÇÃO MULHER.
........................Sônia Abíké  RIBEIRO





Heitor dos Prazeres, Grande Mestre do Samba!

A Biografia completa de Heitor dos Prazeres pode ser encontrada no site a seguir:  http://www.heitordosprazeres.com.br/hp/biografia/index.asp

A partir daí Heitor caiu no mundo: cavaquinho em punho, caixa de engraxate e a bolsa ao lado de carregar os jornais, saiu ele na conquista de sua cidade e de sua formação nesta grande escola da vida, dedilhando seu instrumento, deixando-se levar pela magia daquele som, descobrindo acordes, tentando conhecê-los mais intimamente.
Nas redondezas de seu bairro, preferia os pontos onde existia música, como as cervejarias da Praça Onze, com suas sessões de cinema mudo, animadas por pianistas ou pequenos conjuntos musicais que fascinavam o garoto Lino, ali assistindo do lado de fora, atento aos movimentos dos músicos que tiravam sons de seus instrumentos a cada movimento das cenas filmadas. Ele gostava também dos cafés nos arredores da Lapa, onde ia ouvir as orquestrinhas de valsas e choros que animavam as noites da bela época do Rio de Janeiro. Ao fim de cada apresentação, o maestro passava seu elegante chapéu de palha entre os freqüentadores, arrecadando dinheiro para os instrumentistas, que geralmente no fim das noitadas arranjavam propostas para serenatas dedicadas às pretendidas dos mais românticos freqüentadores daqueles requintados cafés.
Nos Prazeres das noites cariocas ele foi crescendo. E nos carnavais, já

sábado, 27 de agosto de 2011

Ismael Silva, Bamba do Samba!

 Ismael Silva, um dos Grandes Bambas do Samba!
Sua Bibliografia completa pode ser acessada pelo seguinte site:

Os ranchos tinham música própria, cadenciada e foliões bem-comportados que marchavam pelas ruas ao som da marcha-rancho. Esse ritmo lento não agradava os foliões das novas gerações, que buscavam algo mais alegre para o carnaval. Pensando nisso, e também em se livrar da perseguição policial que sofriam, em 1928 Ismael e seus companheiros do Estácio formaram um bloco chamado Deixa falar, que desfilou em 1929 ao som de um ritmo mais acelerado do que o ritmo dos ranchos, com surdos e tamborins marcando esse novo andamento, o samba. Esse bloco foi o precursor das Escolas de Samba, e o curioso nome Deixa falar surgiu porque outros blocos ou "agrupamentos" de outros bairros criticavam muito os sambistas do Estácio, que respondiam simplesmente com a expressão "Deixa falar". Já a palavra "escola", segundo Ismael, surgiu baseada no fato de haver uma escola de ensino normal nas imediações do bairro. Se aquela era uma escola "normal", que formaria professores para a rede escolar, a Deixa falar seria uma escola de samba, pois formaria professores de samba!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Agnello Regalla: Poeta de Guiné Bissau


O Eco do Pranto

Não me digas
Que essa é a voz de uma criança
Não...
A voz da criança
É suave e mansa
É uma voz que dança...
Não me digas
Que essa voz é de uma criança
Parece mais
Um grito sem esperança
Um eco
Partindo de fundo de um beco
Não me digas
Que essa voz é uma voz de uma criança,
Essa é doce e mansa
É uma voz que dança...
Esta parece mais
Um grito sufocado sob o manto
- O eco do pranto

Amar

Amar
É o mesmo que escrever
Docemente,
Amargo,
Mas incompleto

Flor Nocturna

Flor Nocturna
Que com a lua
Desabrochas em meus braços
Flor soturna
Que pelas sombras da rua
Guia teus passos,
Flor amiga
Com pétalas de estrelas
E restas de luar
Deambula noctívaga
Pelas vielas
E vem-me abraçar.

Átomo

Vi uma criança
Dobrar-se inocente
Sob o peso da bomba.
Vi o átomo
Desagregar-se em morte
E cobrir em cogumelo
A Humanidade,
E lágrimas de sangue
Ergueram-se
Em orgiva
Sobre o deserto,
E lá longe,
Uma pomba branca
Que sobreviveu
Sem arca e sem Noé
Chorou a loucura do Homem.

Extraído de: Portuguesia contraantologia – Minas entre os povos da mesma língua. Org. Wilmar Silva. Belo Horizonte: Anome Livros, 2009. 507 p. ( c/CD) ISBN 978-8598378-345-5 www.anamelivros.com.br-anomelivros@anomelivros.com.br