Você pediu Angola, Angola eu vou tocar...
A Capoeira hoje apresentada ao mundo pelas agências de informações do Brasil como um fruto da cultura brasileira, de sua suposta integração étnico-racial e de um povo miscigenado, vem sendo alvo de ações que já ocorreram com outras produções artístico-culturais de matrizes africanas como a exemplos dos gêneros musicais, o chorinho aqui no Brasil, o Rock nos EUA, como também das Escolas de Samba, ou seja, de um seletivo processo de embranquecimento.
Estas mesmas fontes que hoje tecem essas impressionantes imagens sobre a capoeira, também foram no passado seus algozes. A sutil estratégia intenta esvaziá-la de seu conteúdo étnico-racial, assim como de seus pressupostos políticos e sociais. Ela foi criada no seio de uma comunidade, construiu referências, contrapôs as tentativas lusitanas de imposição de uma hegemonia cultural no Brasil.
As suas origens Bantu forjaram lideranças ligadas às religiões de origens africanas, as diversas organizações sócio-culturais como os blocos de afoxé, maracatu, associações de trabalhadores, escola de samba etc. Portanto foi forjada dentro de um contexto de inserção do negro na sociedade brasileira, subvertendo os seus supostos valores morais e civilizatórios ditados por uma elite que tinha a mente na Europa e torcia o nariz para tudo que lembrasse a negro.
A capoeira se insere em uma ampla rede de ações pertencentes à diáspora negra. Desfigurá-la, portanto de suas origens é descontextualizá-la de seu conteúdo. É bom ficar bem atento quanto a essa questão, a capoeira tem origens e marca. Caso pudéssemos falar inclusive em propriedade intelectual não seria exagerado. A capoeira não é fruto de integração racial nenhuma e muito mesmo de uma suposta miscigenação, ela é fruto sim, de uma intervenção coletiva negro-africana no Brasil. Vejamos então essa antiga cantiga de capoeira que aprendi com meus saudosos mestres Betim e Daí:
Meu Deus que barulho é esse?
Que vem La da porta do mercado,
Era um navio negreiro
Trazendo escravo acorrentado,
Meu Deus eu já fui escravo,
Acorrentado em corrente de Ouro,
Eu sou angoleiro,
Angoleiro das minas de ouro...
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