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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Partido-Alto


Site: www.cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/partidoalto - 19k

Com a palavra, alguém que entendia do assunto: "Estão todos cantando samba menor e dizendo que é partido-alto e eu sou um dos errados porque não quero ficar isolado". Aos 65 anos, em 1977, Aniceto Menezes, o Aniceto do Império (um dos fundadores da escola da Império Serrano) admitia no lançamento de seu primeiro disco (dividido com outro partideiro, Nilton Campolino) que o gênero já não era o mesmo iniciado por seus ancestrais. Gerado nas festas religiosas do jongo de procedência rural, batido em tambores chamados de candongueiro, angumavita e caxambu, o partido virou chula raiada, como na exemplar e remota Patrão, prenda seu gado, da trinca fundadora Pixinguinha, Donga e João da Bahiana, registrada pelo cantor e estudioso Almirante. Mas Aniceto, fiel ao tradicionalismo, ditava algumas regras que via desrespeitadas. "O partido tem hora para começar, mas não para acabar, já que os versos são livres, feitos na hora. E precisa da presença do coro", situava.

Para ele, a adaptação pedida pelo mercado teve um divisor de águas. "O samba menor foi um recurso que surgiu na época em que Paulo da Portela ficou em evidência, para adaptar o samba aos coristas", garantia. Mal saberia, ele que morreu pobre e esquecido em 1993 aos 80 anos, que o partido-alto ainda sofreria outras modificações até servir de combustível para o movimento conhecido por pagode de fundo de quintal, movido a banjo e tantã. E que até o termo pagode acabaria desvirtuado num samba-pop de duvidosa consistência.

Permeando a MPB
A própria denominação partido-alto, já insinua algum tipo de superioridade para seus praticantes (turumbambas, no tempo do jongo, segundo Aniceto, daí a encurtada expressão bamba), que deviam desenvolver longas estrofes de seis ou mais versos e voltar ao estribilho. Enfim, o correspondente no universo do samba ao repente/cantoria nordestina. O partido permeia a história da MPB. Pode ser encontrado na assinatura do andarilho dos morros e rodas de malandragem Noel Rosa com o lendário João Mina em De Babado, de 1936, gravado em dupla com Marilia Baptista. Anteriores ainda são Falem de Mim, de Rufino, de 1928, com Alcides Malandro Histórico e Alvaiade ambos da Portela e Quitandeiro (de Paulo da Portela, de 1933, antes da segunda parte escrita depois por Monarco) também por Alvaiade, faixas posteriormente gravadas na série das escolas de samba do selo Marcus Pereira, em 1974.

E o partido também pontifica nas batucadas da Baixada e adjacências e nas novas favelas violentas e miseráveis, capturado pelo pernambucano Bezerra da Silva. As rodas de partido moldaram muito compositor, como testemunha Elton Medeiros comentando na gravação de Não Vem (Assim Não Dá), de 1977, que conheceu Candeia numa delas, na festa da Penha. Junto com os dois entram na roda ilustre Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Partideiros como Clementina de Jesus (dialogando com outra figura lendária, o portelense João da Gente) e Xangô da Mangueira além de Aniceto, atestam que esse tipo de samba de melodia curta governado pelo ritmo, mesmo distante das origens é um dos mais evidentes elos entre o gênero urbanizado e sua nascente africana.

Músicas:

Patrão, prenda seu gado (Pixinguinha/ Donga/ João da Bahiana) – Almirante

De Babado (João Mina/ Noel Rosa) – Noel Rosa e Marília Batista

Falam de Mim (Rufino) – Alcides Lopes "Malandro Histórico" e Alvaiade

Quitandeiro (Paulo da Portela) – Alvaiade

Barracão é Seu (tradicional) – Clementina de Jesus e João da Gente

Partido Alto (Aniceto do Império) – Aniceto do Império

O Samba É Bom Assim (Norival Reis/ Hélio Nascimento) – Jamelão

Na Água do Rio (Silas de Oliveira/ Manoel Ferreira) – Silas de Oliveira

Moemá, Morenou (Paulinho da Viola/ Elton Medeiros) – Paulinho da Viola

Não Vem (Assim Não Dá) (Candeia) – Candeia, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

Isso Não São Horas (Xangô da Mangueira/ Catoni) – Xangô da Mangueira

Quem Samba Fica (Tião Motorista/ Jamelão) – Jamelão

Pra Que Dinheiro? (Martinho da Vila) – Martinho da Vila

Vivo Isolado do Mundo (Alcides Malandro Histórico)/ Amor não é brinquedo (Candeia/ Martinho da Vila) - Candeia

Tiê (Ivone Lara e Fuleiro) – Ivone Lara

Pega Eu (Jorge F. Silva "Crioulo Doido") – Bezerra da Silva

Partido Alto (Chico Buarque) – MPB-4

Só Chora Quem Ama (Wilson Moreira/ Nei Lopes)/ Goiabada Cascão (Wilson Moreira/ Nei Lopes)/ Mel e Mamão com Açúcar (Wilsom Moreira)/ Coisa da Antiga (Wilson Moreira/ Nei Lopes)

Luz do Repente (Marquinho PQD/ Arlindo Cruz/ Franco) – Jovelina Pérola Negra

Vou Botar Teu Nome na Macumba (Zeca Pagodinho/ Dudu Nobre) – Zeca Pagodinho
Tárik de Souza

MetaMusica

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Carlos Cahaça, Gente da nossa Terra


www.letras.com.br/biografia/carlos-cachaca - 28k

Carlos Cachaça, fundador da escola de samba da Mangueira, foi o primeiro a inserir elementos históricos nos sambas de enredo, o que é uma norma até hoje. Carlos esteve em atividade até a morte, aos 97 anos.

Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça, compositor, nasceu no Rio de Janeiro em 03/08/1902, faleceu em 16/08/1999.

Nasceu perto do morro da Mangueira, onde foi morar aos oito anos de idade. Carlos foi testemunha e figurante das várias manifestações religiosas e culturais criadas pelos negros das quais o Morro de Mangueira é um centro de preservação e de irradiação.

Nunca deixou as vizinhanças do subúrbio e já aos 12 anos saía nos blocos carnavalescos formados pelos freqüentadores do morro.

Abandonou os estudos no curso ginasial para se dedicar
ao samba, passando a fazer parte, como pandeirista, em 1918, do conjunto de Elói Antero Dias, o Mano Elói, um dos primeiros a gravar pontos de macumba em discos.

Começou a trabalhar na estrada de Ferro Central do Brasil, seguindo o mesmo ofício do pai.

Por volta de 1922 conheceu o compositor Cartola, que se tornaria um dos seus grandes parceiros, com quem formou três anos mais tarde o Bloco dos Arengueiros, embrião da G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, fundada em 1928.

Seu primeiro samba - Ingratidão - foi composto em 1923; nos anos seguintes, dedicou-se a sambas-enredo e sambas de terreiro, para a então fundada escola de samba.

Em 1932 a Mangueira foi campeã do desfile com o samba Pudesse meu ideal, primeira composição sua em parceria
com Cartola.

Compôs, em 1933, Homenagem, um dos primeiros sambas-enredo a incluir personagens da história do Brasil, gênero que o tornou conhecido também fora do morro.

Araci de Almeida gravou na Victor, em 1937, seu samba,
feito em parceria com Cartola e Zé da Zilda, "Não quero mais", depois chamado "Não quero mais amar a ninguém", regravado em 1973 por Paulinho da Viola no seu LP Nervos de aço (Odeon), e que no ano do lançamento tirou o primeiro lugar entre os sambas apresentados no desfile de escolas.

Seu apelido surgiu na casa de certo tenente do Corpo de Bombeiros, ponto de encontro de sambistas, vários deles chamados Carlos; para distingui-los, cada um ganhou um apelido, e o seu ficou sendo Carlos Cachaça por causa de sua bebida preferida.

Sua última participação ativa na Mangueira ocorreu em 1948, quando a escola foi a primeira a colocar som no desfile, para o samba-enredo Vale de São Francisco, mais uma parceria com Cartola.

No LP de Cartola editado pela Marcus Pereira, em 1974, teve incluídos seus sambas Quem me vê sorrir (com Cartola) e Alvorada no morro (com Cartola e Hermínio Belo de Carvalho).

Ele próprio gravou Vingança e Homenagem no LP sobre a Mangueira, da série História das escolas de samba, lançado pela Marcus Pereira em 1974.

Em dezembro de 1980 lançou pela Ed. José Olympio, em co-autoria com Marília T. Barboza da Silva e Arthur L. Oliveira Filho, o livro Fala, Mangueira.

Em 1997 comemorou 95 anos com festa na quadra da Estação Primeira em homenagem ao único fundador vivo da escola.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Baianas do acarajé: uma história de resistência



O texto pode ser lido Integralmente no Site:

O ofício das baianas do acarajé é patrimô-nio cultural do Brasil. Quando anunciado,
equívocos em torno do “tombamento do acarajé” e outros mal-entendidos esconderam a
valorização de uma profissão feminina historica-mente presente no País: as baianas de tabuleiro. O orgulho por esse reconhecimento podia ser visto nos rostos das mulheres negras de novas e antigas gerações presentes durante a cerimô-nia de diplomação de seu ofício, que aconteceu no dia 15 de agosto de 2005, na sede do Institu-to do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Salvador. [...]

 Carolina Cantarino