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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Partido-Alto


Site: www.cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/partidoalto - 19k

Com a palavra, alguém que entendia do assunto: "Estão todos cantando samba menor e dizendo que é partido-alto e eu sou um dos errados porque não quero ficar isolado". Aos 65 anos, em 1977, Aniceto Menezes, o Aniceto do Império (um dos fundadores da escola da Império Serrano) admitia no lançamento de seu primeiro disco (dividido com outro partideiro, Nilton Campolino) que o gênero já não era o mesmo iniciado por seus ancestrais. Gerado nas festas religiosas do jongo de procedência rural, batido em tambores chamados de candongueiro, angumavita e caxambu, o partido virou chula raiada, como na exemplar e remota Patrão, prenda seu gado, da trinca fundadora Pixinguinha, Donga e João da Bahiana, registrada pelo cantor e estudioso Almirante. Mas Aniceto, fiel ao tradicionalismo, ditava algumas regras que via desrespeitadas. "O partido tem hora para começar, mas não para acabar, já que os versos são livres, feitos na hora. E precisa da presença do coro", situava.

Para ele, a adaptação pedida pelo mercado teve um divisor de águas. "O samba menor foi um recurso que surgiu na época em que Paulo da Portela ficou em evidência, para adaptar o samba aos coristas", garantia. Mal saberia, ele que morreu pobre e esquecido em 1993 aos 80 anos, que o partido-alto ainda sofreria outras modificações até servir de combustível para o movimento conhecido por pagode de fundo de quintal, movido a banjo e tantã. E que até o termo pagode acabaria desvirtuado num samba-pop de duvidosa consistência.

Permeando a MPB
A própria denominação partido-alto, já insinua algum tipo de superioridade para seus praticantes (turumbambas, no tempo do jongo, segundo Aniceto, daí a encurtada expressão bamba), que deviam desenvolver longas estrofes de seis ou mais versos e voltar ao estribilho. Enfim, o correspondente no universo do samba ao repente/cantoria nordestina. O partido permeia a história da MPB. Pode ser encontrado na assinatura do andarilho dos morros e rodas de malandragem Noel Rosa com o lendário João Mina em De Babado, de 1936, gravado em dupla com Marilia Baptista. Anteriores ainda são Falem de Mim, de Rufino, de 1928, com Alcides Malandro Histórico e Alvaiade ambos da Portela e Quitandeiro (de Paulo da Portela, de 1933, antes da segunda parte escrita depois por Monarco) também por Alvaiade, faixas posteriormente gravadas na série das escolas de samba do selo Marcus Pereira, em 1974.

E o partido também pontifica nas batucadas da Baixada e adjacências e nas novas favelas violentas e miseráveis, capturado pelo pernambucano Bezerra da Silva. As rodas de partido moldaram muito compositor, como testemunha Elton Medeiros comentando na gravação de Não Vem (Assim Não Dá), de 1977, que conheceu Candeia numa delas, na festa da Penha. Junto com os dois entram na roda ilustre Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Partideiros como Clementina de Jesus (dialogando com outra figura lendária, o portelense João da Gente) e Xangô da Mangueira além de Aniceto, atestam que esse tipo de samba de melodia curta governado pelo ritmo, mesmo distante das origens é um dos mais evidentes elos entre o gênero urbanizado e sua nascente africana.

Músicas:

Patrão, prenda seu gado (Pixinguinha/ Donga/ João da Bahiana) – Almirante

De Babado (João Mina/ Noel Rosa) – Noel Rosa e Marília Batista

Falam de Mim (Rufino) – Alcides Lopes "Malandro Histórico" e Alvaiade

Quitandeiro (Paulo da Portela) – Alvaiade

Barracão é Seu (tradicional) – Clementina de Jesus e João da Gente

Partido Alto (Aniceto do Império) – Aniceto do Império

O Samba É Bom Assim (Norival Reis/ Hélio Nascimento) – Jamelão

Na Água do Rio (Silas de Oliveira/ Manoel Ferreira) – Silas de Oliveira

Moemá, Morenou (Paulinho da Viola/ Elton Medeiros) – Paulinho da Viola

Não Vem (Assim Não Dá) (Candeia) – Candeia, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

Isso Não São Horas (Xangô da Mangueira/ Catoni) – Xangô da Mangueira

Quem Samba Fica (Tião Motorista/ Jamelão) – Jamelão

Pra Que Dinheiro? (Martinho da Vila) – Martinho da Vila

Vivo Isolado do Mundo (Alcides Malandro Histórico)/ Amor não é brinquedo (Candeia/ Martinho da Vila) - Candeia

Tiê (Ivone Lara e Fuleiro) – Ivone Lara

Pega Eu (Jorge F. Silva "Crioulo Doido") – Bezerra da Silva

Partido Alto (Chico Buarque) – MPB-4

Só Chora Quem Ama (Wilson Moreira/ Nei Lopes)/ Goiabada Cascão (Wilson Moreira/ Nei Lopes)/ Mel e Mamão com Açúcar (Wilsom Moreira)/ Coisa da Antiga (Wilson Moreira/ Nei Lopes)

Luz do Repente (Marquinho PQD/ Arlindo Cruz/ Franco) – Jovelina Pérola Negra

Vou Botar Teu Nome na Macumba (Zeca Pagodinho/ Dudu Nobre) – Zeca Pagodinho
Tárik de Souza

MetaMusica

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Carlos Cahaça, Gente da nossa Terra


www.letras.com.br/biografia/carlos-cachaca - 28k

Carlos Cachaça, fundador da escola de samba da Mangueira, foi o primeiro a inserir elementos históricos nos sambas de enredo, o que é uma norma até hoje. Carlos esteve em atividade até a morte, aos 97 anos.

Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça, compositor, nasceu no Rio de Janeiro em 03/08/1902, faleceu em 16/08/1999.

Nasceu perto do morro da Mangueira, onde foi morar aos oito anos de idade. Carlos foi testemunha e figurante das várias manifestações religiosas e culturais criadas pelos negros das quais o Morro de Mangueira é um centro de preservação e de irradiação.

Nunca deixou as vizinhanças do subúrbio e já aos 12 anos saía nos blocos carnavalescos formados pelos freqüentadores do morro.

Abandonou os estudos no curso ginasial para se dedicar
ao samba, passando a fazer parte, como pandeirista, em 1918, do conjunto de Elói Antero Dias, o Mano Elói, um dos primeiros a gravar pontos de macumba em discos.

Começou a trabalhar na estrada de Ferro Central do Brasil, seguindo o mesmo ofício do pai.

Por volta de 1922 conheceu o compositor Cartola, que se tornaria um dos seus grandes parceiros, com quem formou três anos mais tarde o Bloco dos Arengueiros, embrião da G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, fundada em 1928.

Seu primeiro samba - Ingratidão - foi composto em 1923; nos anos seguintes, dedicou-se a sambas-enredo e sambas de terreiro, para a então fundada escola de samba.

Em 1932 a Mangueira foi campeã do desfile com o samba Pudesse meu ideal, primeira composição sua em parceria
com Cartola.

Compôs, em 1933, Homenagem, um dos primeiros sambas-enredo a incluir personagens da história do Brasil, gênero que o tornou conhecido também fora do morro.

Araci de Almeida gravou na Victor, em 1937, seu samba,
feito em parceria com Cartola e Zé da Zilda, "Não quero mais", depois chamado "Não quero mais amar a ninguém", regravado em 1973 por Paulinho da Viola no seu LP Nervos de aço (Odeon), e que no ano do lançamento tirou o primeiro lugar entre os sambas apresentados no desfile de escolas.

Seu apelido surgiu na casa de certo tenente do Corpo de Bombeiros, ponto de encontro de sambistas, vários deles chamados Carlos; para distingui-los, cada um ganhou um apelido, e o seu ficou sendo Carlos Cachaça por causa de sua bebida preferida.

Sua última participação ativa na Mangueira ocorreu em 1948, quando a escola foi a primeira a colocar som no desfile, para o samba-enredo Vale de São Francisco, mais uma parceria com Cartola.

No LP de Cartola editado pela Marcus Pereira, em 1974, teve incluídos seus sambas Quem me vê sorrir (com Cartola) e Alvorada no morro (com Cartola e Hermínio Belo de Carvalho).

Ele próprio gravou Vingança e Homenagem no LP sobre a Mangueira, da série História das escolas de samba, lançado pela Marcus Pereira em 1974.

Em dezembro de 1980 lançou pela Ed. José Olympio, em co-autoria com Marília T. Barboza da Silva e Arthur L. Oliveira Filho, o livro Fala, Mangueira.

Em 1997 comemorou 95 anos com festa na quadra da Estação Primeira em homenagem ao único fundador vivo da escola.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Baianas do acarajé: uma história de resistência



O texto pode ser lido Integralmente no Site:

O ofício das baianas do acarajé é patrimô-nio cultural do Brasil. Quando anunciado,
equívocos em torno do “tombamento do acarajé” e outros mal-entendidos esconderam a
valorização de uma profissão feminina historica-mente presente no País: as baianas de tabuleiro. O orgulho por esse reconhecimento podia ser visto nos rostos das mulheres negras de novas e antigas gerações presentes durante a cerimô-nia de diplomação de seu ofício, que aconteceu no dia 15 de agosto de 2005, na sede do Institu-to do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Salvador. [...]

 Carolina Cantarino

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Poesia Africana de Expressão Portuguesa: Alda Espírito Santo


 O texto pode ser lido na integra no Site:
www.betogomes.sites.uol.com.br/ - 3k -
Poemas:

Biografia
Alda Espirito Santo, também conhecida por Alda Graça, nasceu em São Tomé em 1926 e teve a sua educação em Portugal. Ainda freqüentou a Universidade, mas teve que abandonar, em parte devido às suas atividades políticas, mas também por motivos econômicos. Sendo uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa, ocupou alguns cargos de relevo nos governos de São Tome e Príncipe, nomeadamente foi Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura e Deputada. Os seus poemas aparecem nas mais variadas antologias lusófonas, bem como em jornais e revistas de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Depois de publicar "O Jogral das Ilhas, em 1976, publicou em 1978 "É nosso o solo sagrada da terra", o qual é até ao momento o seu trabalho mais importante.
Obra poética:
O Jogral das Ilhas, 1976, São Tomé, e. a.;
É Nosso o Solo Sagrada da Terra, 1978, Lisboa, Ulmeiro.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011



O pensamento de Cheikh Anta Diop e as independências africanas

Dialo Diop

2010-03-01, Edição 28

http://pambazuka.org/pt/category/features/62675

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O artigo de Dialo Diop sobre o pensamento de Chekh Anta Diop e as chamadas independências africanas chama a atenção do leitor para a atualidade gritante na obra do historiador senegalês, quando questionamos o conceito de ajuda à África, uma ajuda enviesada, que vem disfarçada de causas desenvolvimentista, mas que no fundo, contribui para a manutenção do estado de exploração e falta de seriedade dos Estados africanos. Vale lembrar a critica do autor à transformação da OEA num clube de dirigentes africanos com um falso discurso de Renascimento Africano. Para o bolso de quem?
Este ano, a 23ª edição da tradicional peregrinação de Caytu, ao mausoléu de Chekh Anta Diop, coincide com a celebração do cinquentenário daquilo que se convencionou chamar de “as independências africanas”. Este momento de recolhimento e de homenagem ao Secretário Geral fundador do RND - Rassemblement National Démocratique (União Democrática Nacional) é uma ocasião de acessar o equilíbrio de uma etapa de meio século de lutas individuais e coletivas pela emancipação e desenvolvimento dos povos africanos.

Da cascata de transferência de competências menores no ano de 1960, preccedida pela independência do Gana e da Guiné Conacry, à abolição do Apartheid e o surgimento de uma nova África do Sul em 1994, e passando pelas guerras de libertação da Argélia, das colônias portuguesas ou inglesas, o processo de descolonização formal de nosso continente, iniciado no após Segunda Grande Geurra mundial, foi atingido no essencial, antes da virada do século e do milênio. Enquanto isso, parece que seja retrospectivamente evidente que os principais objetivos do movimento africano de liberação não foram atingidos, a saber: a idependência e a soberania; a democracia e a igualdade; a unidade e a solidariedade.

Muito pelo contrário, a divisão do continente em mais de cinquenta Estados perpetua a divisão imperial de Berlim (1885) e favorece a manutenção de nossos países sob tutela em diferentes graus, enquanto as guerras civis ou estrangeiras, os golpes de Estado sangrentos, ou constitucionais, a violência eleitoral, a insegurança e a corrupção geral, os tráficos de todos os gêneros, enfim, a miséria e a ignorância da grande maioria dos africanos mantém o caos interior, e com algumas exceções, e a vulnerabilidade exterior.

No quadro dessas condições, é preponderante conhecer a lucidez e a clarividência de Cheikh Anta Diop que, desde, o amanhecer das independências, havia sublinhado o perigo de uma « sulamericanização » da África e indicou a via, o caminho, para evitá-lo: “a unficação política do continente sob bases federais e democráticas”. De longe, no início dos anos 2000, esquecendo os ensinamentos da experiência acumulada, os chefes de Estados africanos fingiram ter aprendido a lição, notadamente transformando a OUA em União Africana (UA), com a criação de uma Comissão de Vocação Executiva e com o lançamento do programa de Renascimento Africano. Mas há boas razões para se acreditar que se trata mais uma vez, de vozes piedosas e de solgans vazios de sentido. Ao mesmo tempo em que, os estados da América do Sul querem romper com o círculo vicioso das dependências, da instabilidade e da pobreza, se engajam resolutamente na via salutar da revolução unitária bolivariana...

Trata-se de dizer o quanto tornou-se necessário e urgente para se propor uma alternativa crível aos povos africanos e render efetiva a palavra de ordem do Renascimento Africano, de retorno às teses e recomendações vitais de Cheikh Anta Diop, o “faraó de Caytu”. A começar com uma ruptura obrigatória do mito da “ajuda ao desenvolvimento”, um erro que distrai a ilusão segundo a qual a construção do continente depende da boa-vontade de forças extra-africanas, que jamais deixaram de pilhar os recursos humanos e naturais, mais que nossas proprias forças, que sao imensas.

De fato, a mensagem política fundamental de Cheikh Anta Diop, « unir ou perecer », se apresenta aind mais atual hoje em dia do que ontem, nuam escala tanto local quanto continental e do ponto de vista tanto político, quanto econômico. De modo que, o princípio sagrado da independência africana verdade dura mais pertinente que jamais, e aqui em todos os domínios da soberania: alimentar, energética, militar, monetária, diplomática, cultural, ecológica... e sobretudo, política, com um papel essencial reconhecido à ética política. Enfim, no que concerne à queestão democrática, sua contribuição decisiva consistiu em demonstrar que toda contrução nacional viável e durável supõee a igualdade de direitos dos cidadãos, que por sua vez, implica em recorrer sistematicamente às línguas africanas tanto na administração quanto na educação. Poderíamos multiplicar os exemplos infinitamente.

Resulta disto tudo que precedeu que já é o grande tempo, o grande dia, para que os povos da África se apropriem das idéias inovadoras e salutares propostas por Cheikh Anta Diop - este digno continuador dos teóricos do panafricanismo revolucionário, - que se esforçou ao longo de toda sua vida de trabalho científico e de combate político, em coordenar suas falas com seus atos.

O RND, por sua vez, vem renovar, nesta ocasião solene, sua fidelidade e seu comprometimento com os ensinamentos de seu falecido Secretário geral fundador, donde sua experiência por mais de trinta anos de luta local, permitiu-lhe verificar a justeza e a eficácia da linha política posta em ação durante sua direção: junção de forças patrióticas e democráticas, recusa à violência política, firmeza de pencípios e flexibilidade de sua obra, recorrência às línguas nacionais, no funcionamento interno das instâncias, premanência dos interesse geral sobre os interesses particulares dos dirigentes, etc.…

Por isso, nós lançamos um apelo apressado ao conjunto dos compatriotas africanos, e de início à juventude do continente e da Diáspora, convidando-os a apreender o pensamento político de Cheikh Anta Diop, para utilizar na longa luta comum por romper com um passado, doravante revolvido , de divisão, de dependência e de alienação, a fim de construir um futuro alternativo e positivo de paz, de liberdade, de unidade e de solidariedade, susceptível a garantir uma vida melhor a todos e para cada um.

* Este texto é uma declaração do Secretariado Exectutivo do RND - Rassemblement National Démocratique, o partido criado pelo pesquisador senegalês Cheikh Anta Diop, en 1976.

**Traduzido do francês por Alyxandra Gomes Nunes

***Por favor envie comentários para editor-pt@pambazuka.org ou comente on-line em http://www.pambazuka.org

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Joseph Ki Zerbo, Restaurando a dignidade da África

O Texto foi extraido do Site:
http://www.manduco.net/apps/forums/topics/show/1579888-joseph-ki-zerbo

Seus compatriotas afetivamente o apelidaram de “O Professor”. Suaambição: unir ciência, conscientização e vida, tanto quanto possível,para criar um “mundo diferente”. Joseph Ki-Zerbo nasceu em Toma,Burkina Faso, em 21 de junho de 1922. Morreu em 4 de dezembro de 2006,em Ouagadougou.
Ki-Zerbo foi um dos pais da historiografia africana moderna, cujoponto alto foi a publicação dos oito volumes da “História Geral daÁfrica (Editora da UNESCO, 1970-1990). Membro do comitê científico paraa produção coletiva da obra, Ki-Zerbo desempenhou um papel chave nesseprojeto pioneiro.

O Professor
Primeiro africano a receber o grau de professor de históriadenominado "aggregation", em 1956, Joseph Ki-Zerbo teve uma longacarreira de educador.A maioria dos países africanos conquistou suaindependência nos anos 60. As novas circunstâncias demandavam umahistória da descolonização. As teorias, inclusive de Hegel, quecolocavam a África às margens da história (chamando-a de o continente“a-histórico”;), haviam influenciado enormemente abordagenseurocêntricas quanto ao passado africano. A história africana eraconsiderada um apêndice da história européia. As tradições oraisafricanas eram consideradas uma “memória repetitiva” pouco confiável eque não poderiam, segundo aqueles obcecados pela escrita, servir comofonte para a história. Esqueceu-se até mesmo que a África, além de játer sido um reservatório de tradição oral, teve longa tradição deescrita não apenas no Egito, mas também na Etiópia, Mali (Timbuktu),Nigéria (Kano) e Tanzânia (Kilwa).

Joseph Ki-Zerbo, juntamente com Cheick Anta Diop, do Senegal, era oporta-estandarte para a descolonização da história africana. Sualiderança intelectual foi chave dentro da chamada “geração de 1956”,que estabeleceu as fundações da história africana “começando pelamatriz africana” e eliminando, dela, o preconceito racista.

Rompendocom abordagens e métodos anteriores que eram inapropriados para areconstituição do passado do continente africano, o professor defendeua aceitação das tradições orais africanas como fontes históricas, emadição às fontes escritas e arqueológicas. Ele questionou a idéia dapré-história como se referindo ao período precedente à invenção daescrita, particularmente rico em criatividade no continente africano, edirigiu o Volume I da “História Geral da África”, publicado pela UNESCO(1970-1990) e dedicado exatamente à pré-história africana e aosproblemas de metodologia.
Adicionalmente, seu livro Histoire de l’Afrique Noire d’hier àdemain (História da África Negra: de ontem ao amanhã, 1972) é o textoprincipal que representa uma nova abordagem para a história africana,uma abordagem que tenta identificar os processos internos e externosque podem explicar a evolução do continente, a longo prazo.
Historiador e ativista
Aobra intelectual de Ki-Zerbo não pode ser analisada separadamente deseu ativismo político, iniciado quando ele era um jovem estudante eparticipou da fundação de diferentes partidos políticos, incluindo oMouvement de Libération Nationale (MLN, Movimento de LibertaçãoNacional), para promover a independência e a unidade do continente.Sólido pan-africanista, companheiro de N’Krumah (Gana) e PatriceLumumba (Congo), Ki-Zerbo conseguiu, durante sua vida, transformar seuspensamentos em ações. Nesse espírito, co-fundou a Associação deHistoriadores Africanos, da qual foi presidente de 1972 a 2001. Tambémexpressou seu compromisso com a defesa da dignidade humana, em cadafronte.
Para Ki-Zerbo, “o real historiador é o intelectual na polis, ointelectual orgânico envolvido em seu ambiente enquanto mantém certadistância, sem a qual seria mero partidário”. Suas análises edificantesdos desafios de hoje – desenvolvimento, globalização, educação, meioambiente, identidades – resultaram em uma série de livros com títulosprovocadores: “Educar ou Padecer” (1990), “A esteira do outro” (1992),“A África quando?” (2003). O conhecimento e sabedoria que impregnam seutrabalho dão a ele um impacto universal. Com raízes no humanismo,Ki-Zerbo é alimentado por valores africanos profundos e convida a umaalteridade (do tipo que não aliena) para construir um “mundo diferente”de solidariedade e respeito mútuo.
Doulaye Konaté, professor da Universidade de Bamako, é presidente da Associação de Historiadores Africanos. Em 2004 Dany Kouyaté dirigiu um documentário sobre Joseph Ki-Zerbo,com a participação do próprio historiador, chamado "Identités etidentité pour l’Afrique" (Identidades e identidade para a África),disponível no Centro de Estudos Africanos para o Desenvolvimento(CEDA), fundado por Ki-Zerbo, em 1980.
November 4, 2009 at 4:46 AM

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

África é o Berço da Inteligência Humana

O texto foi extraido do Site:
http://civilizacoesafricanas.blogspot.com/2010/01/africa-e-o-berco-da-inteligencia-humana.html


Sítio arqueológico de Blombos.


A cultura humana nasceu muito antes do que imaginávamos. E na África – não na Europa, como pensavam os estudiosos. Há 77 mil anos, os ancestrais do homem já eram capazes de fazer arte e pensar de forma abstrata. Prova disso são duas barras de argila colorida com desenhos geométricos encontradas no sítio arqueológico de Blombos, a 290 quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2004. As descobertas foram feitas pela equipe do antropólogo americano Christopher Henshilwood, da Universidade de Nova York. “A presença de objetos entalhados de gravuras significa que as habilidades de aprendizagem e a capacidade para o pensamento abstrato estavam presentes entre aqueles homens”, diz. “Essa aptidão para o armazenamento de informações fora do cérebro humano é entendida como cultura, como inteligência.”

Os novos achados refutam a teoria de que o despertar da cultura humana teria ocorrido na Europa, conforme sugeriam pinturas rupestres encontradas em grutas na França, em lugares como Lascaux (a descoberta foi em 1940), Chauvet (em 1994) e Cussac (em 2004), além de Altamira, na Espanha (ocorrida em 1868) – todos esses desenhos encontrados na Europa não têm mais do que 35 mil anos. “Isso indica que o povo africano, de quem nós todos descendemos, era moderno em suas atitudes muito antes de eles chegarem à Europa e substituírem os neandertais”, afirma Henshilwood.

Jóia é sinal de cultura
Stefan Gan
Fabricar jóias é um sinal de aprendizagem. Isso foi levado em conta pela equipe de Christopher Henshilwood como um dos sinais de que a África foi realmente o berço da inteligência. No mesmo sítio arqueológico de Blombos, os cientistas encontraram 41 peças que acreditam terem sido usadas como ornamentos pessoais. Elas têm 75 mil anos e eram feitas com as conchas de um molusco que habita a região, o Nassarius kraussianus.
Os objetos têm perfurações e marcas de uso. Até então, as jóias mais antigas já encontradas eram mais recentes: tinham cerca de 50 mil anos. “As conchas eram usadas como jóias, símbolos de troca e também para identificação de algum grupo específico. Isso tudo indica que, há 75 mil anos, já existiam formas de os homens se comunicarem uns com os outros”, afirma Henshilwood. “Portanto, podemos dizer que a linguagem humana já estava desenvolvida.”

Racionais
Geometria esperta

Os desenhos geométricos encontrados nas duas peças de argila em Blombos são uma série de losangos. Os pesquisadores só os consideraram manifestações de inteligência porque não são simples rabiscos, e sim símbolos de pensamento abstrato.

Conchas reveladoras
As conchas encontradas em Blombos também serviam como parte de um sistema de troca de presentes conhecido como hxaro. Se uma seca provocasse escassez em uma tribo, esse grupo mudava-se para o território de outro, onde encontrava auxílio com quem tinha estabelecido laços hxaro.

Livro velho
A corrida pelos vestígios humanos mais antigos do mundo é acirrada. O livro O Despertar da Cultura, de Richard Klein e Stanley Ambrose, recém-publicado no Brasil, já chega por aqui velho. O livro relata a descoberta pelos dois de jóias de 50 mil anos na África. Os achados em Blombos os deixaram para trás.
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