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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Joseph Ki Zerbo, Restaurando a dignidade da África

O Texto foi extraido do Site:
http://www.manduco.net/apps/forums/topics/show/1579888-joseph-ki-zerbo

Seus compatriotas afetivamente o apelidaram de “O Professor”. Suaambição: unir ciência, conscientização e vida, tanto quanto possível,para criar um “mundo diferente”. Joseph Ki-Zerbo nasceu em Toma,Burkina Faso, em 21 de junho de 1922. Morreu em 4 de dezembro de 2006,em Ouagadougou.
Ki-Zerbo foi um dos pais da historiografia africana moderna, cujoponto alto foi a publicação dos oito volumes da “História Geral daÁfrica (Editora da UNESCO, 1970-1990). Membro do comitê científico paraa produção coletiva da obra, Ki-Zerbo desempenhou um papel chave nesseprojeto pioneiro.

O Professor
Primeiro africano a receber o grau de professor de históriadenominado "aggregation", em 1956, Joseph Ki-Zerbo teve uma longacarreira de educador.A maioria dos países africanos conquistou suaindependência nos anos 60. As novas circunstâncias demandavam umahistória da descolonização. As teorias, inclusive de Hegel, quecolocavam a África às margens da história (chamando-a de o continente“a-histórico”;), haviam influenciado enormemente abordagenseurocêntricas quanto ao passado africano. A história africana eraconsiderada um apêndice da história européia. As tradições oraisafricanas eram consideradas uma “memória repetitiva” pouco confiável eque não poderiam, segundo aqueles obcecados pela escrita, servir comofonte para a história. Esqueceu-se até mesmo que a África, além de játer sido um reservatório de tradição oral, teve longa tradição deescrita não apenas no Egito, mas também na Etiópia, Mali (Timbuktu),Nigéria (Kano) e Tanzânia (Kilwa).

Joseph Ki-Zerbo, juntamente com Cheick Anta Diop, do Senegal, era oporta-estandarte para a descolonização da história africana. Sualiderança intelectual foi chave dentro da chamada “geração de 1956”,que estabeleceu as fundações da história africana “começando pelamatriz africana” e eliminando, dela, o preconceito racista.

Rompendocom abordagens e métodos anteriores que eram inapropriados para areconstituição do passado do continente africano, o professor defendeua aceitação das tradições orais africanas como fontes históricas, emadição às fontes escritas e arqueológicas. Ele questionou a idéia dapré-história como se referindo ao período precedente à invenção daescrita, particularmente rico em criatividade no continente africano, edirigiu o Volume I da “História Geral da África”, publicado pela UNESCO(1970-1990) e dedicado exatamente à pré-história africana e aosproblemas de metodologia.
Adicionalmente, seu livro Histoire de l’Afrique Noire d’hier àdemain (História da África Negra: de ontem ao amanhã, 1972) é o textoprincipal que representa uma nova abordagem para a história africana,uma abordagem que tenta identificar os processos internos e externosque podem explicar a evolução do continente, a longo prazo.
Historiador e ativista
Aobra intelectual de Ki-Zerbo não pode ser analisada separadamente deseu ativismo político, iniciado quando ele era um jovem estudante eparticipou da fundação de diferentes partidos políticos, incluindo oMouvement de Libération Nationale (MLN, Movimento de LibertaçãoNacional), para promover a independência e a unidade do continente.Sólido pan-africanista, companheiro de N’Krumah (Gana) e PatriceLumumba (Congo), Ki-Zerbo conseguiu, durante sua vida, transformar seuspensamentos em ações. Nesse espírito, co-fundou a Associação deHistoriadores Africanos, da qual foi presidente de 1972 a 2001. Tambémexpressou seu compromisso com a defesa da dignidade humana, em cadafronte.
Para Ki-Zerbo, “o real historiador é o intelectual na polis, ointelectual orgânico envolvido em seu ambiente enquanto mantém certadistância, sem a qual seria mero partidário”. Suas análises edificantesdos desafios de hoje – desenvolvimento, globalização, educação, meioambiente, identidades – resultaram em uma série de livros com títulosprovocadores: “Educar ou Padecer” (1990), “A esteira do outro” (1992),“A África quando?” (2003). O conhecimento e sabedoria que impregnam seutrabalho dão a ele um impacto universal. Com raízes no humanismo,Ki-Zerbo é alimentado por valores africanos profundos e convida a umaalteridade (do tipo que não aliena) para construir um “mundo diferente”de solidariedade e respeito mútuo.
Doulaye Konaté, professor da Universidade de Bamako, é presidente da Associação de Historiadores Africanos. Em 2004 Dany Kouyaté dirigiu um documentário sobre Joseph Ki-Zerbo,com a participação do próprio historiador, chamado "Identités etidentité pour l’Afrique" (Identidades e identidade para a África),disponível no Centro de Estudos Africanos para o Desenvolvimento(CEDA), fundado por Ki-Zerbo, em 1980.
November 4, 2009 at 4:46 AM

Um comentário:

  1. Devemos muito a esse historiador Joseph Ki-Zerbo pelo seu pensamento histórico sobre a África que saberá afirmar-se ainda perante toda a humanidade.

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