O Blues pode ser tratado de diversas formas, ou seja, do ponto de vista de sua estética musical, de seus músicos, de seus compositores, de seus cantores, das suas diversas lendas, das suas raízes etc. Enfim, todas essas variantes compõem a apaixonante história do mano Blues. Todos aqueles envolvidos com esse gênero musical direta ou indiretamente têm suas histórias particulares em que o Blues perpassa e deixou suas marcas e por meio desse se expressaram.
Nem tudo veio para a grande mídia, muito de suas intimidades e segredos não vieram à tona e dependendo da situação não poderiam vir, permanecendo acessíveis somente a aqueles digamos assim, que o cultivavam. Dos códigos compostos em formas de músicas, um “Senhor Escravista, ou um Capataz, jamais poderiam ter acesso”. Esses posicionamentos do negro iriam influenciar a futura estética musical do Blues. A trama acontecia, o que se via ou se ouvia publicamente poderia não ser aquilo que se pensava ser, pois desse subterrâneo do Blues nem todos tinham o código de acesso. A dissimulação, o estar atento, uma boa dose de malícia, a criatividade, o improviso, o sentimento, a paixão e a musicalidade desde então passaram a ajudar a tecer esse formidável subterrâneo Blues. O depoimento de Campbell E. Simemms, em jazzmen, é esclarecedor:
“Os negros trabalhavam e cantavam juntos e muitas destas canções tinham um significado que só eles atingiam. Para o branco esses cantares traduziam a paz e a satisfação do escravo, mas para os negros isso não passava muitas vezes de um meio de trocar mensagens. << É melhor ires andando por aquela estrada abaixo – filho – melhor ires andando por aquela estrada abaixo. O Senhor Charlie da cidade não se sente bem – é melhor aliviares essa pesada carga>> - a canção era recebida e passada de uns para os outros através dos campos. Queria simplesmente dizer que um homem branco de outra cidade acabava de chegar à plantação e que era melhor que o jovem negro que trabalhava entre eles, zelosamente escondido dos brancos na <<casa grande>>, deixasse a cidade. Era freqüente entre os negros darem asilo aos seus irmãos perseguidos que vinham pedir-lhes refúgio e, na altura própria, comunicavam-lhe em código a urgência em abandonar a plantação nessa noite. Tais letras misturadas nas canções conhecidas tinham um enorme significado para ouvidos negros”.